Mano diz que volta ao Inter na hora certa e projeta time equilibrado

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    O técnico Mano Menezes foi apresentado pelo Inter na manhã desta quarta-feira no Estádio Beira-Rio, logo após acompanhar o primeiro treino no CT Parque Gigante. O novo comandante colorado, que assinou contrato até o fim de 2022, falou sobre o estilo de jogo que pretende implementar no time e disse que retorna ao clube na hora certa, 20 anos depois de sua passagem pelas categorias de base.

    O acerto do Inter com Mano foi concretizado na noite de terça-feira após as negociações se arrastarem durante o dia. O treinador já estava em Porto Alegre, por isso já conseguiu acompanhar a primeira atividade com o elenco colorado nesta manhã.

    Logo no início da entrevista, o comandante foi questionado sobre a forma que a equipe deve jogar, já que desde o início da atual gestão do presidente Alessandro Barcellos é manifestada a vontade de uma ruptura no clube para um futebol mais propositivo. Mano abraçou a ideia de dar essa identidade ao time, mas deixou claro seus princípios de formatar times equilibrados e disse que, para o atual momento, a ideia é simplificar.

    – Penso futebol de forma bem completa. Não conheço times vencedores que se comportam só de forma reativa, que só se comportam ofensivamente ou que só propõem, pois às vezes o adversário propõe melhor do que a gente e nesse dia tem que ter outro tipo de solução. Futebol para mim é tudo isso. Me parece claro que o Inter está buscando construir essa estrutura que dê sustentação para o trabalho de busca por uma filosofia – afirmou.

    – Penso sempre no futebol na parte tática. Uma equipe bem organizada faz recuperar muita coisa, e quando as coisas precisam ser recuperadas, simplificar é o caminho inicial. Colocar as coisas nos devidos lugares. Falo sempre que, se tem 10 coisas complexas que devemos fazer num jogo, se fizermos cinco bem no próximo jogo, já estamos avançando, a confiança aumenta. Essa parte anímica vem junto, porque é um contexto – acrescentou.

    Ainda sobre isso, Mano Menezes falou sobre como pensa montar o time do Inter. Primeiro, ressaltou que é cedo falar em escalação, mas evidenciou sua intenção de montar o time com base nas características dos atletas e na intenção de tirar o melhor de cada um.

    – Ainda é cedo para falar como vou montar minha equipe, mas os jogadores como Taison e Edenilson se destacaram jogando de determinada maneira, e vou procurar tirar o melhor de cada um dentro das suas características – projetou.

    Mano Menezes volta a vestir o fardamento do Inter após mais de 20 anos. Em 2000 e 2001, o treinador trabalhou nas categorias de base e participou do processo de lapidação de jovens atletas. Hoje, afirmou que retorna em um momento em que precisa do Inter, assim como o clube precisa do seu trabalho após o começo ruim na temporada.

    – Acredito na vida que tudo tem sua hora. Acredito muito que estou aqui porque sou treinador com característica, conhecimento, bagagem e experiência para estar aqui e ajudar o Inter. Mas também penso que o Inter é o clube certo para me ajudar. Quando tem esses interesses as coisas tendem a andar bem – disse o treinador.

    Além do treinador, o novo diretor executivo do Inter, William Thomas, também foi apresentado na manifestação inicial do presidente Alessandro Barcellos. O profissional chega para ocupar o cargo deixado por Paulo Bracks.

    Aos 59 anos, Mano volta a comandar um clube brasileiro após exatamente um ano e quatro meses, quando deixou o Bahia. Neste período, teve passagem pelo Al-Nassr, da Arábia Saudita. Permaneceu de abril a setembro do ano passado no clube saudita.

    No currículo, o treinador acumula passagens, entre outros clubes, por Grêmio, Corinthians, Flamengo, Cruzeiro e Palmeiras, além da seleção brasileira. Mano Menezes ostenta três títulos da Copa do Brasil, dois Gauchões, dois Mineiros, um Paulistão e duas Séries B, além da medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012.

    Confira outros trechos da entrevista:

    Trabalho ruim no Bahia?
    Eu tenho um amigo treinador chamado Roberval Davino, que uma vez numa brincadeira disse que era “Davino” e não era “divino”, porque queriam que ele fizesse uma coisa que era impossível de fazer. Eu fiz o que era possível no Bahia. Quando passei pelo Bahia, o Bahia teve três técnicos e teve 12 vitórias, seis comigo, e não caiu. No ano seguinte, caiu. Então quando se avalia o trabalho de alguém, é importante contextualizar. Você tem que trabalhar dentro de uma normalidade. Estamos defendendo construir, estruturar um trabalho, exatamente para que as vitórias não sejam efêmeras, que o time não fique naquele sobe e desce. Essa é uma dificuldade da maioria dos clubes brasileiros, até os que fazem grandes investimentos, às vezes passam por um momento de vitórias e depois já não conseguem manter. Não acho que o trabalho no Bahia foi extraordinário, mas foi dentro do contexto”.

    Vaias da torcida do Inter
    Eu assisti como espectador o jogo de domingo, e o torcedor mesmo pode, usando um exemplo desse, em termos de comportamento, como é importante que ele apoie a equipe. Nós, como equipe, entender como é importante termos o torcedor do nosso lado. Sempre construí algo que vá na direção do que o torcedor quer ver, por isso a identidade de uma filosofia é mais importante ainda, porque ele vê dentro do campo a identidade do que ele vê como futebol. Às vezes se cria falsas expectativas, e a expectativa grande às vezes vem acompanhada de uma frustração, e não podemos deixar isso acontecer. Vamos fazer as coisas, transmitir a ideia, mostrar uma evolução, às vezes não tão rápida como se espera, mas sempre que o torcedor sinta uma melhora. Eu penso que a pior coisa que tem é terminar o trabalho no ano e sentir que tem que recomeçar tudo no janeiro do ano que vem. O torcedor sente essa frustração, e passa a ser mais impaciente. Temos que encontrar esse equilíbrio.

    Como remobilizar o elenco?
    Apresentando um bom desempenho. Quando uma equipe não tem desempenho, não tem jogador que esteja bem. Por isso, os treinadores sempre defendem que o mais importante numa equipe é a parte coletiva. Isso estando bem, naturalmente individualmente os jogadores começam a se sobressair, e o torcedor não vai pegar no pé de quase ninguém porque ele quer ver vencer dentro de campo”.

    Posicionamento de Edenilson e Taison
    “Vocês dificilmente vão ter um comentário individual sobre esse ou aquele, a menos que seja para fazer um grande elogio. As minhas análises quase sempre vão ser sobre a equipe. Ainda é cedo para falar como vou montar minha equipe, mas os jogadores como Taison e Edenilson se destacaram jogando de determinada maneira, e vou procurar tirar o melhor de cada um dentro das suas características. Situação do Edenilson é mais recente dentro do Inter, então isso o levou à seleção brasileira. A maneira como ele atuava fez dele o destaque da equipe, tanto que foi convocado. Isso é um indicativo forte que um treinador com experiência como eu, vai respeitar. O cuidado com a característica que era antes e mudou um pouco, também deve ser levado em consideração. Já vimos muitos jogadores que iniciaram na extrema e ao longo da carreira centralizaram mais a atuação. Jogadores que jogam mais na beirada são exigidos um pouco mais de potência, agilidade pelos lados, então isso também é a realidade do momento e vou procurar levar em consideração”.

    Como foi receber a situação de voltar ao Inter?
    Acredito que tudo tenha sua hora, e que estou aqui com característica, conhecimento, bagagem, para estar aqui e ajudar o Inter, mas também que o Inter é o clube certo para me ajudar. Quando existe esse complemento de interesse, as coisas tendem a andar bem e é isso que acreditamos”.

    Como planeja formatar o time?
    Procuro montar minhas equipes com linha de quatro defensiva, hoje a maioria das equipes inicia com uma linha de três, e isso não quer dizer três zagueiros, pode ser composta com dois zagueiros e um lateral, e minha ideia é fazer uma saída de três quando for construir a jogada com dois centrais e um lateral, seja da direita ou da esquerda. Vou procurar respeitar característica dos jogadores que estiveram na formação, pois é tentar tirar o melhor de cada um. Vamos construir com qualidade, pois se não for com qualidade dificilmente vai estar entre as equipes do Campeonato Brasileiro. O futebol para mim é simples, se não tivermos a bola, todos gostam de ter, mas é difícil de ter. Se não tivermos a bola, temos que imediatamente trabalhar para recuperar, e quando tivermos a bola temos que ter competência para não entregar para o adversário, e isso dá bastante trabalho, mas penso que temos potencial de melhora bastante grande, capaz de nos aproximar daquilo que queremos fazer”.

    Aproveitamento da base
    Tenho uma teoria que 60%, 70% dos jogadores que temos para contratar no mercado nacional são parecidos tecnicamente. Para não gastarmos todo nosso dinheiro naqueles que são parecidos, temos que ter um aproveitamento da categoria de base, pois também são parecidos com aqueles que podemos contratar. Ao fazer isso, temos a capacidade de guardar o dinheiro para contratar os diferentes, ou pelo menos poder disputar com os principais concorrentes. Mas também penso que não podemos cair na tentação de promovermos jogadores da categoria de base. Por exemplo, colocar 15 no grupo principal e não aproveitar quase ninguém. Temos que fazer um projeto para os jogadores que promovemos”.

    Sobre jogadores indicados por Medina
    Quando a gente assume um clube no Brasil, diferente da Europa, não podemos definir uma maneira de jogar e sair contratando todos que a gente quer e que se adaptem àquele sistema. Temos que analisar os jogadores que temos. O mercado fechou, os jogadores que o Inter tem no seu grupo serão os jogadores no mínimo até julho. O treinador tem que analisar rapidamente esses jogadores e decidir a maneira de jogar privilegiando as características dos jogadores que temos”.

    Pelo que o Inter briga?
    Estou aqui porque o Inter enfrentou dificuldades. Há a interrupção de um trabalho e é contratado o treinador que o clube acha mais adequado. No futebol brasileiro é impossível, com raras exceções, como vai ser o Campeonato Brasileiro. Ano passado tem um exemplo local para não esquecer. Penso que o Inter tem potencial de melhora, ainda com duas rodadas do Brasileiro, ninguém sabe como as coisas vão acontecer. Teremos um ano muito peculiar, com jogos muito próximos. Falo sempre que o Campeonato Brasileiro até a 10ª rodada começa a definir as turmas e é bom se aligeirar. Como queremos fazer parte da turma da frente, e entendemos que temos potencial e grupo para isso, acho que é a hora de focar no que queremos fazer.

    Parceria com Paulo Autuori
    Paulo faz parte da minha vida como treinador. Estava ainda no Guarani de Venâncio Aires, tive a honra de dirigir um centroavante chamado Caio Júnior, que proporcionou a aproximação com o Paulo, e a partir daí nunca nos desligamos, mesmo estando longe, nunca tendo trabalho juntos. Para mim é uma honra, o julgo como dos mais competentes para realizar o trabalho que vai se propor a realizar, juntamente com todos. Acho que o Inter inaugura a forma adequada de conduzir um departamento de futebol, então temos todos os ingredientes para fazer, mas temos que fazer. O futebol é assim, sabemos que o futebol é duro. Vamos trabalhar muito para entregar ao torcedor colorado a expectativa que se cria a partir desse momento”.

    Globo Esporte

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