A fala do deputado estadual Wilson Santos (PSD) sobre colegas parlamentares da Assembleia Legislativa de Mato Grosso supostamente ligados a facções criminosas, como o Comando Vermelho e o Primeiro Comando da Capital, ainda tem causado muita dor de cabeça para o legislativo mato-grossense.
Segundo a presidente em exercício da Assembleia, deputada estadual Janaina Riva (MDB), a declaração de Wilson foi uma acusação grave e que causou constrangimento entre os parlamentares.
“Ele não havia comentado aqui dentro da Assembleia. Então não temos nada, nenhum registro, nenhuma reclamação na ouvidoria sobre esse tema. […]. É claro que, a partir do momento em que não se cita nomes, você coloca todos na mesma vala – uma vala comum. Isso nos preocupa muito. Agora, ele diz não saber os nomes dos deputados que estariam envolvidos”, diz.
Wilson teria recebido a informação do policial federal e ex-secretário de Estado de Segurança Pública, Alexandre Bustamante, que havia deputados da Assembleia ligados a facções criminosas.
A declaração fez com que o coordenador do Núcleo de Ações de Competência Originária (NACO), promotor de Justiça Marcos Regenold Fernandes, instaurasse um procedimento preliminar de apuração para investigá-la.
Segundo Regenold, o objetivo é colher elementos mínimos que corroborem a existência do crime de integrar organização criminosa, para abrir um inquérito policial depois.
Por conta da fala, uma reunião no Colégio de Líderes da Assembleia também foi convocada para antes da sessão plenária desta quarta-feira (3), para que Wilson explique a declaração.
“Vamos fazer uma reunião com os deputados para que eles falem para Wilson como estão se sentindo. Muitos me procuraram, o Max e o Botelho, que está em viagem, para mostrar sua insatisfação. Tentamos a todo o momento colocar a Assembleia com uma camada de proteção para que não fique exposta e declarações como essas que constrange todo o Poder Legislativo”, disse Janaina.
Asssembleia não vai chamar ex-secretário
Apesar da reunião com Wilson, Janaina afirma que não tem intenção de chamar Bustamante para apresentar sua versão da declaração de deputados ligados a facções na Assembleia.
Conforme explicação da parlamentar, Bustamante não é mais agente do Poder Executivo de Mato Grosso, e a Assembleia não tem legitimidade para convidá-lo ou convocá-lo para comparecer ao legislativo para esclarecimentos.
“Também não acho que seria respeitoso. Uma pessoa que já saiu do governo, talvez até por motivos pessoais ou profissionais, pode não querer falar sobre o assunto e entendo perfeitamente”.
A presidente da AL em exercício disse que a polícia e a procuradoria tem legitimidade para investigar a fala do deputado, mas adianta que não acredita ser verdadeira a declaração.
“Não queremos trazer essa confusão aqui para dentro de casa. Acho que ela perdeu um pouquinho do contexto, que era para falar da influência do crime organizado. Tenho certeza que isso não é verdade. Senão, já saberíamos. Não vejo nenhum colega sob suspeita, mas é claro que o assunto merece um esclarecimento para a sociedade”, pontua.
Midia Jur