A maior cratera de meteorito da América do Sul

    0
    419

    CAIUBI KUHN

    Quando o leitor observa em uma noite de lua cheia, a superfície do satélite natural da Terra, pode identificar inúmeras estruturas circulares, que são antigas crateras de meteoritos.

    Na Terra, encontrar o registro dos antigos impactos de corpos celestes é algo muito mais difícil, e neste texto será explicado brevemente por que isso acontece.

    A maior cratera conhecida na América do Sul está localizada na divisa entre os estados de Mato Grosso e Goiás, possui 40 km de diâmetro e foi formada há cerca de 254 milhões de anos. Dentro da área da cratera existem hoje duas cidades: Araguainha (MT) e Ponte Branca (MT).

    Os processos que agem na superfície da lua e da Terra são muito diferentes. No satélite natural não existe processo de tectônica de placas e processos atmosféricos que favoreçam a alteração e erosão das rochas, isso facilita a preservação de registros de impactos de meteoritos muito antigos. Algumas das crateras que observamos na superfície lunar podem possuir uma idade superior a 4 bilhões de anos.

    O planeta Terra, por outro lado, é extremamente dinâmico devido aos processos externos e internos. Quando se observa a história contada pela tectônica de placas, é possível ver que há 130 milhões de anos, a África e a América do Sul estavam juntas, se voltarmos mais ainda no tempo, a uma idade próxima a data em que foi formada a cratera do Domo de Araguainha, veremos o Supercontinente Pangeia.

    Os registros geológicos guardados nas rochas, permitem dizer que este ciclo de formação e fragmentação de supercontinentes ocorreu pelo menos cinco vezes na Terra.

    Abrindo e fechando antigos oceanos e formando antigas cordilheiras. Por outro lado, os processos atmosféricos como a chuva, o vento, o clima e a vegetação, ajudam a modificar as rochas, transformá-las em solo e também transportar seus fragmentos para outros locais.

    Essas mudanças fazem com que ocorram muitas modificações nas rochas, o que pode praticamente apagar ou tornar muito difícil de serem reconhecidas antigas crateras de meteoritos.

    Os locais que guardam o registro de antigos impactos, com certeza possuem uma relevância para o entendimento da história do planeta e dos seres que nele vivem. Tenho certeza que a maioria dos leitores se interessa em observar uma rocha que foi modificada por um impacto de meteorito.

    Porém, devido às condições climáticas e as modificações que elas fazem na superfície do planeta, às vezes é difícil encontrar locais onde é possível observar rochas com bom estado de preservação, que possam ajudar a contar a história do nosso planeta.

    Desde o ano 2020, as entidades de geologia acompanham com apreensão as obras de pavimentação da MT-100, que cruza o Domo de Araguainha, e que pode ocasionar destruição ou soterramento de importantes locais onde se podem observar rochas que contam a história deste antigo impacto de meteorito.

    A pavimentação é muito positiva para região, porém, este tipo de obra, quando passa por locais onde exista uma riqueza geológica tão grande, precisa ser planejada de forma diferente, pensando na preservação dos locais de observação das rochas e também criando pontos com placas informativas e acostamentos, para que o cidadão curioso, também possa parar e conhecer um pouco sobre a história fantástica contada pelas rochas do local.

    As obras de pavimentação na área do Domo de Araguainha não foram as únicas que causaram preocupação da comunidade geológica sobre os danos que poderiam acontecer a locais especiais do Brasil, que possuem rochas que contam a história do planeta. Isso demonstra o quanto o Brasil precisa sintonizar por meio de suas políticas públicas o desenvolvimento, a história, o turismo e a educação.

    Locais onde as rochas e as paisagem são verdadeiros laboratórios e livros abertos na superfície do planeta, devem ser tratados de forma diferenciada, pensando os mais diversos usos possíveis para esses territórios.

    Caiubi Kuhn é professor na Faculdade de Engenharia (UFMT) e geólogo.

    DEIXE UMA RESPOSTA

    Por favor digite seu comentário!
    Por favor, digite seu nome aqui