O teste de paciência em tempos de pandemia

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    Então você acorda para mais um dia. Ao abrir a porta de casa, pessoas passando com máscaras no rosto, seguindo seus destinos tal como você. As máscaras já parecem apenas um detalhe, visto que você também está com uma.

     

    No caminho, ambulâncias e carros funerários cruzam o seu caminho, com sons de sirenes que já se tornaram um ruído contumaz aos nossos ouvidos. Então, você chega ao seu destino e novamente se depara com pessoas usando máscaras por todos os lados, alguns colegas ausentes, e um clima estranho onde não é possível perceber se os cumprimentos de “bom dia” são precedidos de um sorriso, já que todos estão com seus rostos cobertos.

     

    No ambiente de trabalho, além das conversas triviais sobre o trabalho e o dia a dia dos colegas, o tema pandemia surge, com alguma ponderação ou notícia de alguém que  faleceu ou que foi hospitalizado. Surgem pequenas discussões políticas sobre as ações ante a pandemia, sobre o que seria certo ou errado sobre a realidade atual.

     

    Vem o horário do almoço  e os restaurantes, quase que vazios, oferecem álcool em gel e luvas plásticas enquanto na TV explodem noticiários sobre a realidade em hospitais brasileiros.

     

    Aos que não almoçam em restaurantes, percebem que um grande número de entregadores cruzam a cidade em suas motos, para efetuarem suas entregas dentro do prazo para aqueles poucos privilegiados que podem ficar em casa. E em muitos desses lares, famílias tentam manter certa tranquilidade.

     

    Crianças brincam sentadas questionando a atual situação, perguntam da escola e de até quando isso vai perdurar. Em condomínios, no andar de baixo de muitos apartamentos, vizinhos procuram manter a calma pelo barulho que vem de cima, e que interrompe momentos de silêncio que antes eram costumeiros.

     

    As TVs  se mantêm ligadas, trazendo noticiários, futebol, reality shows e musicais no intuito de trazer uma falsa descontração momentânea.

     

    Pelas janelas, observamos o  movimento solitário de motocicletas com seus baús e mochilões, e que no momento atual ainda conseguem salvar e manter o funcionamento de alguns restaurantes em um período tão nebuloso.

     

    O som de qualquer espirro ou tosse alheia, desperta um alerta de medo e preocupação.

     

    Nesse contexto, passamos a assimilar um turbilhão de sensações em um único dia, onde o som de uma lata de bebida se abrindo em casa em um momento de descanso, se torna um alento provisório diante de uma situação que nunca vivenciamos anteriormente. Nunca se viu na história tantas separações oficiais entre casais, como tem acontecido nos tempos atuais.

     

    O convívio entre as pessoas passou a exigir  cadência e calma entre as partes, seja ele no âmbito familiar ou profissional, visto que nos vimos sob uma pressão onde qualquer conflito pode ter consequências desastrosas, tal como um pavio prestes a estourar uma bomba.

     

    Devemos nos ater a calma, elevar os pensamentos junto a aquilo que nos remete para o bem, seja através de alguma atividade, terapia ou religião pois o momento requer uma certa dose de paciência diante de tantas notícias angustiantes.

     

    O ser humano nunca se viu em uma situação tão complexa, onde o que anteriormente a preocupação se resumia com o noticiário trazendo notícias sobre uma eventual tempestade, hoje a preocupação é remetida ao convívio com o medo diante de uma doença tão traiçoeira.

     

    O desemprego e a fome passaram a fazer parte do pensamento eminente de muitas pessoas, que do dia para a noite passaram a temer pelo futuro. O que nos resta, é torcer para que o poder público tenha sabedoria em ações que auxiliem de fato a sociedade e  para que as vacinas cheguem de fato para todos, e assim atenuem o medo que tem tirado o sono de muitos brasileiros, mesmo em tempos tão silenciosos.

     

    Gian Franco Cardoso Baldo é investigador de Polícia.

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