Pandemia e política

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    ALFREDO DA MOTA MENEZES

    As falas do presidente Bolsonaro sobre a pandemia têm merecido muitos comentários e deve trazer consequências politicas e eleitorais. Adversários estão aproveitando a situação para tentar desgastá-lo ainda mais. Frases ditas pelo presidente mostram o estrago eleitoral.

    Nos últimos dias o presidente se mostrou contra a vacinação de crianças. Disse que não tem conhecimento de mortes de crianças por covid. Se a maioria dos pais quer vacinar, se outros países fazem isso, por que ele se põe no outro lado? Antes havia sugerido expor nomes de técnicos da Anvisa que insistem em vacinação.

    Lá atrás disse que o Brasil estava parecendo um país de maricas, tudo era pandemia, teria que acabar esse negócio. Alguém fora vacinado com a Coronavac (que ele chamava de vacina do Dória) e, por alguma complicação, veio a falecer. O presidente falou, na época, mais uma que Jair Bolsonaro ganha.

    Ele disse que a única vacina obrigatória seria para o Faísca (o cachorro de estimação dele). Em outro momento, confrontado sobre o número de mortes pelo país, responde e daí, sou Messias mas não faço milagres. Ou aquela frase de que vamos todos morrer um dia. Isso no momento que o Brasil enfrentava um turbilhão de mortes pela covid e não se tinha ainda a vacina.

    Falou que esse assunto da pandemia estava superdimensionado. Criticou a mídia por dar tanto espaço a esse tema, seja aqui ou no exterior. Falou, lá no inicio, que era uma gripezinha. Se acredita que o presidente tirou essa frase de um famoso homem de imprensa dos EUA, Rush Linbaugh, que tinha um programa de rádio de alcance nacional naquele país. Ele era do lado conservador do partido Republicano.

    O presidente ainda criticou o STF, prefeitos e governadores por concordarem com lockdown no auge da pandemia.

    Alguém pode alegar que o presidente falava e fala tudo aquilo, mesmo sabendo que terá desgaste, para amarrar ainda mais seus apoiadores. Mas esses já são Bolsonaro faça chuva ou faça sol.

    Não precisa desse tipo de posicionameno para amarrá-los ainda mais. Ou ainda que ele fala tudo isso porque é autêntico. Podia reservar suas opiniões para grupos mais restritos e não afrontar a nação num assunto melindroso, principalmente porque é candidato à reeleição.

    Outros lados políticos andam aproveitando dessas falas do presidente para tentar queimá-lo perante o eleitorado. Aliás, pesquisas Datafolha mostram que acima de 90% dos brasileiros defendem vacinação em geral e também para crianças. E que 65% aceitam o passaporte da vacina. Bolsonaro, ao ir contra, estaria contrariando toda essa gente.

    Se ele sabe disso, se pesquisas mostram seu desgaste nesse assunto, por que continua a bater nessa mesma tecla? Uma atitude política incompreensível

    Donald Trump, nos EUA, com a economia indo bem no seu governo, tinha caminho certo para a reeleição. Um dos fortes motivos para sua derrota foi seu negacionismo a sua equivocada atuação na pandemia. Não serviu de exemplo para o presidente do Brasil?

    Alfredo da Mota Menezes é analista político.

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