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Em um intervalo de dois dias duas pessoas denunciaram que foram agredidas por seguranças do Terminal Rodoviário Engenheiro Cássio Veiga de Sá, em Cuiabá. Com a mesma descrição – agressão seguida de esfaqueamento -, um dos casos foi filmado por testemunhas e mostra a vítima, que precisou ser hospitalizada, apanhando e coberta de sangue.
O caso filmado foi do engenheiro Josimar Rodrigues Procópio Jr., de 35 anos. Ele veio de Belo Horizonte (MG) a Cuiabá visitar a família. Ele mora na Capital mineira desde abril deste ano e havia há pouco tempo sofrido um acidente e passava por sessões de fisioterapia.
Agora, além de se recuperar de uma lesão no joelho – em decorrência de um atropelamento, precisa tratar dos novos ferimentos e das marcas emocionais e psicológicas que o episódio causou.
“Tenho crises absurdas de pânico e choro só de lembrar. Tenho medo. Não me sinto confortável nem de ir à rua”, afirmou.
Josimar conta que depois de desembarcar do ônibus de viagem subiu a rampa do terminal com dificuldade, carregando duas malas. Ele parou próximo a uma cadeira de massagem automática enquanto pedia uma corrida por aplicativo.
“Eu nem cheguei a sentar na cadeira; só encostei nela. Já estava com o aplicativo aberto”, afirmou. A irmã e o cunhado iriam buscá-lo no terminal, mas devido às 2 horas de atraso na viagem, que chegou ao destino às 2h da manhã, ele preferiu ir sozinho até em casa.
“O funcionário de um quiosque chegou e falou: ‘Olha, essa cadeira é do meu patrão, você não pode ficar aí’. Eu peguei uma nota de R$ 20 e pedi se ele poderia trocar para eu poder ficar ali”.
Segundo Josimar, em momento nenhum ele foi hostil com o trabalhador ou se recusou a pagar caso fosse usar a cadeira. Ele explicou que estava com dificuldade de locomoção devido ao acidente e à longa viagem e em resposta recebeu: “Meu caixa é só pra compra e venda”.
Enquanto ainda conversava com o rapaz, três seguranças se aproximaram dele já de forma agressiva. “Já vieram me socando, me chutando. Eu caí no chão e foi onde as pessoas começaram a gravar”, afirmou.
Josimar foi agredido principalmente na região da cabeça, além de ter sido esfaqueado no braço. O corte foi profundo e mede cerca de 15 cm de comprimento e 6 de abertura.
Já passava das 4h quando finalmente Josimar conseguiu ser socorrido. Pelo estado em que estava, os médicos calcularam que ele tenha perdido entre 1 litro e 1,5 litro de sangue.
“Minha única dúvida é: por que aqueles animais me agrediram de forma gratuita? Eu nem conversei com eles, eu estava conversando com o rapaz do quiosque”, explicou.
Agressão gravada
Uma das imagens mostra o final das agressões. Nelas, Josimar aparece caído no chão sendo agredido por dois seguranças, um de camiseta azul clara e outra cinza. O segurança de blusa preta está em pé observando a cena.
O engenheiro grita: “Esse telefone é meu, tira a mão”. Quando percebe que estão sendo filmado, ele pergunta: “Tá gravando? Olha o que eles fizeram comigo”.
Nesse momento, o segurança de blusa azul chuta a mão de Josimar, que segura um celular. O aparelho cai no andar de baixo.
Depois de perceberem que estavam sendo filmados, os seguranças se afastam da vítima que já estava ferida com as lesões pelo corpo e a perfuração no braço.
Josimar conversa com o rapaz que filma a cena e o homem, que era um dos passageiros do mesmo ônibus em que ele veio, se disponibiliza a testemunhar em seu favor.
Nesse momento, Josimar pede para chamarem o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Enquanto ele segura a nota de R$ 20 com uma das mãos, o braço sangra por todo o terminal com a ferida aberta.
Fuga e descaso
Josimar denuncia que o primeiro policial a atender a ocorrência não registrou o caso e ainda assinou o termo de dispensa de atendimento médico em seu nome e sem sua autorização.
“A impressão que eu tenho é que eu estava ali como uma vítima e virei o culpado. A polícia, que deveria fazer o papel de me proteger, chegou ali me xingando, no chão, como se eu estivesse errado”, afirmou.
Depois disso, Josimar continuou no terminal solicitando a presença do Samu e, depois de mais de uma hora de espera finalmente foi socorrido. Outros vídeos o mostram conversando com um dos médicos explicando que não autorizou a dispensa médica.
Josimar foi encaminhado ao Hospital Municipal de Cuiabá e aí sim o boletim de ocorrência foi registrado, às 4h40.
No dia seguinte, acompanhado pelo cunhado, o engenheiro voltou ao terminal para reaver seus pertences, que foram deixados em um guarda-volumes. Para sua surpresa vários itens foram furtados enquanto esteve hospitalizado, de perfumes a notebooks e outros itens pessoais.
“Se eu for fazer um apanhado total, fui espancado, hostilizado pela Polícia e furtado”, disse.
Eles não queriam me riscar, queriam me furar. Se tivessem feito como fizeram com o outro rapaz eu nem estaria aqui falando com você
Não foi a primeira vítima
Dois dias antes de Josimar, o costureiro Márcio Rodrigues Reis, de 32 anos, também foi agredido na rodoviária.
Ele conta que na noite de sexta-feira (16) por volta das 23 horas, voltava do serviço no Manso e precisava sacar dinheiro.
Pelo horário, se lembrou que havia um caixa 24h no terminal e decidiu ir até lá. Quando chegou, os caixas dentro do terminal estavam fechados com uma grade. Ele, então, decidiu pular a grade para sacar o dinheiro.
Ao pular de volta, um segurança o acompanhou e os dois chegaram a conversar cordialmente. Márcio chegou a questionar o motivo de o portão estar fechado.
Em certo momento o segurança gritou para outro: “É esse ai”.
Segundo Márcio, que registrou um boletim de ocorrência nesta segunda-feira (19), nesse momento foi derrubado, agredido e quase esfaqueado pelo homem.
Márcio conta que a esposa o esperava no carro e os seguranças só pararam quando ele se aproximou do seu veículo. Ele ficou com uma lesão superficial na barriga e com a camiseta perfurada na mesma região.
“Eles não queriam me riscar, queriam me furar. Se tivessem feito como fizeram com o outro rapaz eu nem estaria aqui falando com você”, afirmou.
Tanto Márcio quanto Josimar pretendem representar criminalmente para que o caso seja investigado.
Outro lado
Segundo a Sinart, empresa concessionária do terminal rodoviário, a empresa desconhecia, até então, o caso de Márcio. Mas alegou ter conhecimento do caso de Josimar e já estar tomando as devidas providências para apurá-lo.
“De imediato lamenta o ocorrido e destaca que não compactua com nenhum tipo de situação, quer ocorra de forma pontual ou recorrente, que envolva a pratica de violência física nos Terminais Rodoviários sob sua Concessão”.
Veja: