Deputado cria comissão com indígenas pró-agronegócio e produtores rurais

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O deputado estadual Carlos Avalone (PSDB) criou uma câmara temática na Assembleia Legislativa para atuar em causas indígenas nesta legislatura. A composição da comissão, em sua maioria, é de indígenas que apoiam o agronegócio, a agricultura em larga escala, e também de produtores rurais.

A presidente da Federação dos Povos e Organizações Indígenas do Mato Grosso (Fepoimt), Eliane Xunakalo, considera a iniciativa como negativa. A entidade, que representa 43 povos indígenas de Mato Grosso, não foi consultada nem indicou membros, mas apenas participou com falas na sessão em que a câmara temática foi instalada.

Dos nomes do agronegócio, o deputado Carlos Avalone nomeou o fazendeiro José Otaviano Ribeiro Nardes, o José Nardes, que atua na região de Primavera do Leste. Nardes é um dos ruralistas que iniciaram o projeto autodenominado “Independência Indígena”, para plantar soja e milho dentro da Terra Indígena Sangradouro/Volta Grande em “parcerias” com os indígenas.

Também de Primavera, Avalone escalou o ex-presidente do Sindicato Rural e vereador na cidade, Renato Cozanelli Junior, como integrante da câmara temática.

Dois assessores parlamentares integram a câmara. São eles Paulo Ricardo Schenatto, chefe de Gabinete do deputado Gilberto Cattani (PL), e também outro assessor do mesmo parlamentar, José Márcio Xavier de Queiroz, o Márcio Paromeriri. Este último é indígena da etnia Boe Bororo, de Rondonópolis.

Outro defensor do plantio em larga escala dentro das terras indígenas é Agnaldo Pereira dos Santos, superintendente de Assuntos Indígenas da Casa Civil. O cargo é vinculado à Secretaria-Adjunta de Ação Governamental da Casa Civil, e Agnaldo tem atuado no projeto voltado à soja nas terras indígenas nos últimos anos.

Além do assessor citado anteriormente, o deputado Avalone incluiu outros quatro indígenas entre os membros da câmara setorial, dos quais três também são abertamente defensores de projetos voltados à exploração em larga escala dos territórios ao lado de não-indígenas.

Ronaldo Zokezomaiake Paresi é presidente da Cooperativa Agropecuária dos Povos Indígenas Haliti-Paresi, Nambikwara e Manoki (Coopihanama), que atua no plantio de soja em Campo Novo do Parecis. O cacique Ronaldo ficou famoso durante as eleições de 2022 como apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), favorável ao agronegócio dentro dos territórios.

Já Dodoway Enawenê-Nawê se aproximou da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, antiga Fundação Nacional do Índio (Funai), durante o governo de Bolsonaro. Da região de Sapezal, Dodaway tentava na época, em 2021, liberar o plantio dentro do território dos Enawenê-Nawê.

Avalone incluiu na comissão também o vereador do PSDB em Campinápolis Gininho Tseredzapriwê Tsibo Oopré, da etnia Xavante, e Jocimar de Oliveira, da etnia Arara.

A câmara tem ainda a diretora geral do Instituto Kurâdomôdo, Cleide Arruda, de defesa de povos originários, o servidor da Coordenação Regional da Funai, Benedito César Garcia Araújo, e dois servidores ligados à Secretaria de Estado de Educação: Lucia Aparecida dos Santos, superintendente de Diversidades, e Lucas de Albuquerque Oliveira, da mesma superintendência e voltado à Educação Indígena.

Fepoimt vê problemas

Eliane Xunakalo, presidente da Fepoimt, destaca que os 43 povos originários que se reúnem na entidade possuem formas diversas de organização social e de modo de produção. A formação de uma câmara temática, que deveria defender os direitos dos indígenas, voltada apenas para aqueles que concordam com o agronegócio dentro dos territóros é um problema.

“Primeiro que a gente vê a câmara temática como uma iniciativa negativa. Nós somos 43 povos indígenas, temos uma organização que representa esses povos, e precisamos estar juntos dialogando. Políticas públicas se constrõem com pessoas que pensam de formas iguais, mas também com pessoas que são divergentes. Nós não fomos convidados enquanto membros, apenas para algumas falas, e a Fepoimt existe para construir, discutir, apresentar. A gente vê de forma negativa porque nós povos indígenas de Mato Grosso temos vários modelos econômicos, não apenas um, e isso precisa ser considerado”, defendeu ao Midiajur durante o Acampamento Terra Livre (ATL), na última quinta-feira (13).

Além disso, a presidente da Fepoimt alerta que outra estrutura criada recentemente, a Frente Parlamentar Indígena da Assembleia, também é fator de risco.

“E a gente está muito preocupado com a criação da Frente Parlamentar Indígena, com parlamentares que não nos defendem. Se eles estivesse nos defendendo, cadê eles? Não vieram (ao ATL). Criaram uma Frente Parlamentar Indígena sem dialogar com o movimento, sem nos pautar e não estão aqui. Essa frente é para nos defender ou para nos destruir?”, questionou.

Midia Jur

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