Após meses de investigações intensas e depoimentos por vezes chocantes, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas de 8 de janeiro está se aproximando de sua fase conclusiva. A relatora do processo, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), está pronta para apresentar as descobertas e conclusões da comissão que se debruçou sobre os eventos e as figuras envolvidas nos tumultos que chacoalharam a nação.
Desde maio, a CPMI ouviu uma variedade de testemunhos, revelando detalhes por vezes perturbadores. Entre os depoimentos mais notáveis, estão os de George Washington e Wellington Macedo, condenados por planejar a explosão de um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília. A comissão também se concentrou no papel do empresário Argino Bedin, conhecido em Mato Grosso como “Pai da Soja”, acusado de financiar os atos golpistas.
Um dos testemunhos que causou grande repercussão veio do ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, coronel Mauro Cesar Cid. Cid e o coronel Jean Lawand foram peças centrais em discussões que defenderam uma intervenção militar após as eleições de 2022, revelando a gravidade das tensões políticas internas.
Em contraste, o sargento do Exército Luís Marcos dos Reis defendeu sua integridade perante a comissão, negando todas as acusações, incluindo alegações de movimentações financeiras irregulares. A senadora Gama notou que, entre janeiro de 2021 e fevereiro de 2022, houve uma movimentação suspeita de mais de R$ 3 milhões na conta do militar.
Os eventos em torno do dia 8 de janeiro foram ainda mais destacados pelos depoimentos dos generais Augusto Heleno e Gonçalves Dias, ambos tendo servido no Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Enquanto o general Heleno negou qualquer participação em preparativos para um golpe de Estado, o general G. Dias admitiu equívocos na avaliação dos eventos que levaram às depredações na Praça dos Três Poderes.
Ainda na esfera das revelações impactantes, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres foi confrontado com a descoberta de um documento intitulado “minuta do golpe” em sua residência, delineando planos para um Estado de Sítio e outras medidas extremas.
Possivelmente um dos testemunhos mais explosivos foi o de Walter Delgatti Netto, conhecido hacker, que alegou ter invadido sistemas judiciários a pedido da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Delgatti também alegou ter recebido uma oferta de indulto presidencial de Bolsonaro em troca de assumir a responsabilidade por atividades ilegais, incluindo a invasão de urnas eletrônicas.
A violência real enfrentada por agentes da lei durante os tumultos foi enfatizada pelo depoimento da cabo da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Marcela da Silva Morais Pinno. Ela descreveu os eventos como extraordinariamente violentos, ao contrário de qualquer manifestação que ela tinha presenciado anteriormente.
À medida que a CPMI avança para suas conclusões, nem tudo foi tranquilo. Decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), como a emitida pelo ministro Nunes Marques, que suspendeu as quebras de sigilo do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques, causaram controvérsia e foram vistas como obstáculos às investigações.
Com a leitura do relatório final marcada para terça-feira (17), o clima é tenso, e as atenções estão voltadas para a relatora Eliziane Gama. Enquanto isso, críticas e acusações de parcialidade surgiram, como visto no voto em separado apresentado pelo senador Izalci Lucas (PSDB-DF), que critica a postura do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e pede investigações adicionais.
Esta etapa final promete ser um período de intensos debates e revelações, possivelmente alterando o cenário político brasileiro de maneiras imprevisíveis. O país aguarda, ansiosamente, os resultados e as repercussões que seguirão o relatório final desta investigação histórica.
Peter Paulo