Coronel da PM inocentado após 27 anos relata prejuízos e considera danos irreparáveis

0

No centro de uma controvérsia judicial que se estendeu por quase três décadas, o coronel da reserva da PM Leovaldo Emanoel Sales da Silva, atual Secretário de Ordem Pública de Cuiabá, compartilha os prejuízos que enfrentou ao ser acusado injustamente pelos assassinatos de dois detentos do Presídio do Carumbé em 1996. Após um julgamento que durou 13 horas no dia 6 de novembro, Sales e outros quatro PMs foram unanimemente inocentados pelo Tribunal de Júri.

Em entrevista após a sua absolvição, Sales revelou que as acusações afetaram sua carreira profissional e sua vida pessoal. “Cada vez que havia a possibilidade de ascender na Polícia Militar, a mídia ressuscitava as imagens, pintando-me como inapto para o cargo”, lamenta o coronel. Segundo ele, as repercussões do caso não se limitaram a obstáculos profissionais; o impacto se estendeu ao seu ambiente familiar, com seus filhos sofrendo bullying e sendo estigmatizados na escola.

A defesa, conduzida pelos advogados Wanderley Alves e Raul Marcolino, alega que Sales foi alvo de racismo institucional, uma vez que suas origens humildes e o fato de ser negro teriam influenciado a forma como foi tratado pelo sistema. Marcolino aponta para a escassez de coronéis negros no Brasil e sugere que a proximidade de Sales com a ascensão profissional despertava desconforto, uma característica, segundo ele, do racismo institucionalizado.

O coronel, apesar de ter a possibilidade de buscar reparações por danos morais contra o Estado, mostra-se reticente. Para Sales, nenhum valor financeiro poderia compensar os danos sofridos. “É irreparável. Estou inocentado e não devo nada à Justiça”, afirma.

O caso dos assassinatos dos detentos remonta a uma rebelião no antigo presídio do Carumbé em 1996, que levou à fuga de 50 presos. Sales, que na época comandava o 3º Batalhão da Polícia Militar, viu sua vida mudar drasticamente quando, um mês após a recaptura dos fugitivos, dois corpos foram encontrados e uma das vítimas foi identificada como um dos detentos desaparecidos. A perícia, contudo, foi posta em dúvida pela defesa no julgamento que absolveu os policiais.

Agora, a inocentação dos réus traz um capítulo de alívio para Sales e seus colegas, mas as cicatrizes deixadas pelo processo judicial e a exposição midiática permanecem. A questão que se impõe é como proceder quando a justiça tarda e falha, deixando marcas profundas na vida dos indivíduos afetados.

Da Redação

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui