A Audiência Nacional, órgão judicial da Espanha encarregado dos processos de extradição, suspendeu, na última sexta-feira (22), a entrega do ex-agente da inteligência venezuelano, Hugo “el Pollo” Carvajal, aos Estados Unidos. Carvajal está sob a mira dos EUA por supostamente estar envolvido em atividades ligadas ao narcotráfico com a ex-guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Na quarta-feira anterior, o tribunal havia ordenado a entrega do ex-militar venezuelano aos Estados Unidos, após o fim do processo de negação do pedido de asilo que Carvajal havia feito na Espanha. No entanto, um recurso apresentado pela defesa de Carvajal, alegando um erro formal em uma ordem judicial do tribunal, fez com que a Audiência Nacional concordasse em suspender a entrega aos Estados Unidos até que esse erro fosse corrigido.
Carvajal, ex-chefe dos serviços de inteligência venezuelanos durante o mandato do falecido Hugo Chávez (1999-2013), foi preso em setembro em Madri após quase dois anos em fuga para evitar sua extradição. Durante esse tempo, ele se submeteu a cirurgias estéticas, utilizou disfarces como peruca e bigode, e mudou de residência a cada três meses, de acordo com a polícia espanhola.
Após ser uma figura importante no governo de Chávez, Carvajal foi rejeitado pelo atual governo de Nicolás Maduro depois de ter apoiado publicamente o opositor Juan Guaidó em 2019. Carvajal então fugiu para a República Dominicana de barco e depois voou para a Espanha, onde foi preso em abril de 2019 a pedido dos Estados Unidos. Ele é acusado de fazer parte do ‘Cartel de los Soles’.
Um tribunal de Nova York acusou Carvajal em 2011 de coordenar o transporte de 5,6 toneladas de cocaína da Venezuela para o México em 2006, droga que posteriormente chegou aos Estados Unidos. Se for condenado, ele poderá ser sentenciado à prisão perpétua.
Além disso, Carvajal deverá comparecer em 27 de outubro como testemunha perante um juiz da Audiência Nacional para colaborar com a justiça espanhola em outros casos relacionados à Venezuela. Ele também é acusado pelas autoridades venezuelanas de traição, conspiração, financiamento do terrorismo e associação criminosa.
O presidente do Parlamento da Venezuela, o líder chavista Jorge Rodríguez, pediu aos Estados Unidos a entrega de Carvajal. “Espero que os Estados Unidos e a Espanha não tenham feito isso. Deveriam ter feito de acordo com os tratados de extradição que a Venezuela tem com diferentes países do mundo, entreguem à Venezuela um criminoso como Hugo Carvajal”, disse ele em uma coletiva de imprensa.
Carvajal, por sua vez, nega as acusações. Em uma carta aberta publicada nas redes sociais em 2021, afirmou que “a pressão política dos Estados Unidos pode dobrar o Estado espanhol e eles acabem violando as leis que faltam para agradar aos políticos gringos”. Ele concluiu dizendo que, se isso acontecer, seu espírito permanecerá o mesmo, e confia que a verdade e a justiça prevalecerão.