Por Peterson Prestes
As infecções hospitalares e o avanço das chamadas “superbactérias” vêm acendendo alertas na comunidade médica internacional. Segundo um estudo publicado na “The Lancet Regional Health”, a resistência antimicrobiana foi responsável por quase 600 mil mortes apenas nas Américas em 2019, com o número global de fatalidades chegando a 1,27 milhão.
Maria Cláudia Stockler de Almeida, médica do Instituto Central do Hospital das Clínicas da USP, destaca a gravidade de quatro tipos principais de infecções hospitalares, enfatizando a necessidade de programas de qualidade e prevenção nos centros de saúde. O alerta se torna ainda mais preocupante ao considerarmos que, conforme levantamento do IHME, 20% das mortes por infecções de bactérias resistentes afetam crianças com menos de cinco anos, uma faixa etária que, ao lado dos idosos, requer atenção especial.
No Brasil, onde a Anvisa monitora as infecções ligadas à assistência à saúde, percebe-se um aumento dos casos notificados durante a pandemia. Este cenário é refletido principalmente em unidades de tratamento intensivo pediátricas e neonatais. O país enfrenta, além disso, um desafio relacionado à falta de notificações por parte de hospitais privados.
Claudio Maierovitch, médico sanitarista e pesquisador da Fiocruz, ressalta que a resistência antimicrobiana é um processo natural de seleção dos microrganismos, mas é exacerbada pelo uso indiscriminado de antibióticos tanto em ambientes hospitalares quanto comunitários. A vigilância global, ele argumenta, é crucial para combater o problema.
Renato Kfouri, infectologista pediatra, chama atenção para as “campeãs” das infecções hospitalares, destacando bactérias como Klebsiella, Escherichia coli e Staphylococcus, cuja vigilância deve ser constante.
Desde 2010, medidas como a exigência de retenção de receita para a venda de antibióticos buscam mitigar o problema. No entanto, os especialistas argumentam que não basta apenas regular o uso: é necessário investir em pesquisa para o desenvolvimento de novas drogas.
Monica De Bolle, economista da Universidade Johns Hopkins, enfatiza a falta de interesse das indústrias farmacêuticas em investir em novos antibióticos devido à baixa lucratividade, apesar da necessidade urgente para a saúde pública.
Por fim, é ressaltada a importância do desenvolvimento de pesquisas que explorem substâncias naturais no combate às bactérias, como é o caso da penicilina, derivada de um fungo. No entanto, tais pesquisas demandam altos investimentos e são demoradas.
Diante desse panorama, VTNEWS destaca a crescente necessidade de uma ação conjunta que envolva governos, instituições de saúde, indústria farmacêutica e a sociedade, na busca por soluções que freiem o avanço da resistência antimicrobiana e protejam a saúde global.