Aprosoja chama Reforma Tributária de confisco perverso: “Mato Grosso amargará sérios prejuízos”

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A Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT) divulgou uma carta aberta sobre a aprovação da Reforma Tributária na Câmara dos Deputados, realizada nessa quinta-feira (06). No texto, a entidade se refere ao projeto como “Reforma Tributária do confisco” e defende que a medida trará “efeitos perversos”. Segundo a Aprosoja, a reforma é um “monstrengo” que trará um alto custo político para aqueles que a apoiaram.

De acordo com a entidade, a Reforma Tributária prevê uma alíquota reduzida para educação, saúde, transporte e produção de alimentos na ordem de 50% em relação as alíquotas bases dos novos tributos.

“Mato Grosso amargará sérios prejuízos uma vez que a tributação migrará para os estados em que os produtos serão consumidos”, destaca a carta.

O texto da Reforma Tributária foi aprovado, na noite de quinta-feira (06), com facilidade na Câmara dos Deputados, por por 375 votos a 113.

Mato Grosso amargará sérios prejuízos uma vez que a tributação migrará para os estados em que os produtos serão consumidos

“Apesar disso, estimativas dos idealizadores da proposta dão conta de que serão em torno de 25% para o IBS, e 12% para o CBS, perfazendo um total assombroso de 37%, ou seja, o que o governo pretende é receber um cheque em branco do setor produtivo e da sociedade para posteriormente definir o tamanho da alíquota que vai se adequar aos seus gastos”, avança o documento.

Segundo a Aprosoja, a adoção dessa nova forma de arrecadação, os produtores de Mato Grosso amargarão um aumento de carga tributária de quase 60% em relação ao cenário atual, “um verdadeiro confisco de renda do cidadão que trabalha no campo”.

O governo pretende é receber um cheque em branco do setor produtivo e da sociedade para posteriormente definir o tamanho da alíquota que vai se adequar aos seus gastos

Sobre as propostas de criação de um “Fundo de Compensação” e de Cashback (devolução de dinheiro aos pagadores de impostos), a entidade diz que são inciativas que levam a desconfiar das intenções do governo. “Ou alguém acredita que um governo que precisa de R$ 120 bilhões para o ano que vem vai devolver algum dinheiro para alguém? Parece conto da Carochinha.”

Para a Aprosoja, uma reforma que afeta de forma tão ampla a vida das pessoas não poderia ser votada de forma “precipitada”, sem “formatação clara” e sem “debate transparente”.

A aprovação da reforma foi uma vitória do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e do presidente da Câmara, deputado Artur Lira (PP). Nesta sexta-feira (07), os deputados votam os destaques, que são as propostas de alterações no texto original. Em seguida, o texto segue para o Senado.

Leia a íntegra da carta:

REFORMA TRIBUTÁRIA
CARTA ABERTA DA ASSOCIAÇÃO DOS PRODUTORES DE SOJA E MILHO DE MATO GROSSO (APROSOJA/MT)

Todos que participam ativamente dos debates sobre a PEC 45, a reforma tributária do confisco, sabem que a proposta traz medidas com efeitos perversos ao cidadão brasileiro. O que se pode afirmar desse debate açodado é que os pilares basilares de uma reforma tributária: redução de carga e simplificação, respeito ao Pacto Federativo, nunca foram o objetivo dos seus idealizadores, patrocinadores e promotores.

A notória transferência de emprego e renda dos estados interioranos para os grandes centros parecem não estarrecer a opinião pública. Governadores de Mato Grosso e Goiás explicam aos quatro cantos que a PEC 45 trará perda de capacidade de investimento para estados produtores e maior complexidade para produtores rurais pessoas físicas, e criticam com razão o fato de o Governo Federal não ter embasado com números a sua proposta.

Mato Grosso amargará sérios prejuízos uma vez que a tributação migrará para os estados em que os produtos serão consumidos. Será que estamos informando a sociedade de forma clara, de que haverá uma perda irreversível em termos de capacidade de investimento público e liberdade para implementar medidas para atração de investimentos privados, especialmente voltados a industrialização da produção?

Embora o relatório publicado ontem (5/7) preveja uma alíquota reduzida para os setores de educação, saúde, transporte e produção de alimentos na ordem 50% em relação as alíquotas bases dos novos tributos, a narrativa esconde o fato de que não há alíquota hoje sendo discutida pelo parlamento. Apesar disso, estimativas dos idealizadores da proposta dão conta de que serão em torno de 25% para o IBS, e 12% para o CBS, perfazendo um total assombroso de 37%, ou seja, o que o governo pretende é receber um cheque em branco do setor produtivo e da sociedade para posteriormente definir o tamanho da alíquota que vai se adequar aos seus gastos. Este mesmo relatório, de autoria do deputado federal Agnaldo Ribeiro (PP-PB), sequer chegou a acatar as sugestões do setor agro para amenizar o impacto para este setor.

Com a adoção desta nova sistemática de arrecadação, os produtores rurais de Mato Grosso amargarão um aumento de carga tributária de quase 60% em relação ao cenário atual, um verdadeiro confisco de renda do cidadão que trabalha no campo.

E mais, em nenhum momento, o governo e, principalmente o Congresso Nacional promoveram um debate amplo sobre o assunto com a população, já que esta será mais impactada, pois como consumidora final, pagará a conta do aumento do custo dos serviços (saúde, educação, turismo, entre outros) e alimentação, pois todos os produtos da cesta básica sofrerão aumento de carga tributária. E essa conta é muito simples, todos os produtos da cesta básica que hoje são desonerados, sofrerão aumento de carga tributária que serão repassados para a população. Não fica difícil entender quem pagará a conta.

Fundo de Compensação, Cashback? Mecanismos que o governo quer criar na Reforma Tributária para compensar os estados e a população de baixa renda com o aumento da carga tributária, são de se desconfiar. Ou alguém acredita que um governo que precisa de R$ 120 bilhões para o ano que vem vai devolver algum dinheiro para alguém? Parece conto da Carochinha.

Não podemos aceitar que uma reforma que mexa nessa amplitude com as vidas dos brasileiros seja votada de modo precipitado, sem uma formatação clara e sem um debate transparente, embasado por análise de impacto regulatório. O governo sequer apresentou números e impactos para a sociedade, o mínimo que poderia se fazer. O próprio idealizador desta Reforma Tributária, o senhor Bernard Appy, chegou a afirmar que não há um número e impacto da reforma.

Temos acompanhado o esforço da nossa bancada, especialmente da Frente Parlamentar da Agropecuária – FPA, levando preocupações e propostas de aperfeiçoamento do texto ao relator. Todavia, a impressão que temos é de que estamos batendo em ferro frio.

Qualquer que seja o remendo feito à PEC 45 (Reforma Tributária) não transformará o monstrengo em que ela se transformou, em algo positivo para o Brasil e, sem dúvida, aqueles que colocarem seu voto nesta proposta terão um custo político muito alto e uma conta com a sociedade.

Cuiabá – MT, 06 de julho de 2023

Repórter MT

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