O empresário Douglas Castro, preso em flagrante durante a quarta fase da Operação Curare, admitiu ter quebrado o próprio celular quando policiais federais chegaram para cumprir mandado de busca e apreensão em sua casa, em abril. Segundo o empresário, foi uma ação desesperada para evitar que a esposa visse conversas com outras mulheres no aparelho.
Em 23 de abril, a desembargadora federal Maura Moraes Tayer concedeu um habeas corpus da defesa e determinou a soltura do empresário. O argumento foi de excesso de prazo, já que a Justiça Federal demorou mais de 24 horas para analisar o flagrante e não houve decretação da prisão preventiva na audiência de custódia.
Castro já havia sido alvo da Polícia Federal em outra fase anterior da mesma operação, que investiga corrupção na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e na Empresa Cuiabana de Saúde Pública (ECSP). A quarta fase investiga o desvio de R$ 3 milhões e também possível lavagem do dinheiro, que teria bancado, em parte, a compra de um avião.
Além de Douglas Castro, que é dono da VIP Serviços Médicos, o ex-secretário-adjunto de Saúde Milton Correa da Costa Neto também foi alvo de buscas da PF em abril. O avião seria de Milton e caiu no Pantanal em um acidente aéreo em agosto de 2021 vitimando o médico George Melo.
As buscas da quarta fase foram realizada pela PF em 20 de abril. O empresário afirmou que “no momento que ouviu os policiais federais anunciando a presença se assustou, razão pela qual resolveu quebrar o aparelho de telefone celular”.
Douglas Castro explicou ao delegado da PF Carlos Alberto Claudiano Filho que seu casamento “já não anda bem e o motivo para isso é o aparelho celular”. Ele disse que “se desesperou com medo de vazar para sua esposa alguma conversa com outras mulheres e realizou a quebra do aparelho celular”. O casal estaria em tentativa de reconciliação.
Ao ouvir a chegada da PF, o empresário quebrou o celular usando o batente da porta do banheiro do quarto e diz ter, em seguida, dado descarga no celular no vaso sanitário. A PF, porém, desconfia que ele tenha entregado os restos do aparelho a um dos filhos, que saía para a escola no momento das buscas.
Na oitiva, Castro disse que quebrou o celular “exclusivamente em razão de seu casamento” e que não se deu conta da possível relação com as investigações da PF. “Foi um momento de burrice”, confessou ao delegado.
VASO QUEBRADO E OBJETO COM CRIANÇAS
A equipe de agentes da PF narra que chegou à casa do empresário e narrou sua chegada, mas houve demora para atender à porta. A esposa de Castro disse que iria buscar a chave do portão, e que “demorou mais um tempo até que abrisse” e os agentes pudessem entrar de fato. Duas testemunhas chegaram em seguida para acompanhar a ação.
Ao buscar em todos os cômodos da casa, os agentes desconfiaram ao não encontrar o telefone. Existia no local um carregador e uma “capa de aparelho celular que aparentemente havia sido danificada há pouco”.
Os policiais viram que havia sistema de câmeras na casa e o responsável pelo monitoramento foi chamado. O funcionário mostrou as imagens e os agentes viram a movimentação do empresário para quebrar o telefone.
“Que ao verificar as imagens percebeu-se claramente que nesse momento o preso quebrou o aparelho celular no batente de uma porta, terminando de fazê-lo em sua perna; Que após isso, o preso entrou no banheiro e provavelmente dispensou o aparelho quebrado pela privada”, diz o depoimento de um dos agentes da PF.
A PF desconfia que Douglas Castro tenha utilizado um dos filhos para tirar o celular quebrado da casa
Os policiais procuraram novamente no banheiro e o aparelho não foi encontrado. Já naquele momento, Castro admitiu que quebrou o celular, mas não disse aos policiais como tinha descartado o equipamento. Foi dado voz de prisão.
A documentação das investigações mostra que os agentes da PF ainda tentaram recuperar o telefone do empresário possivelmente dentro da privada.
O vaso sanitário foi desparafusado do lugar e foi inclusive quebrado do lado de fora da casa, mas nenhum vestígio do celular foi encontrado.
Ao analisar novamente as imagens do circuito de segurança, porém, um relatório da PF aponta para a possibilidade de que Douglas Castro tenha usado um de seus dois filhos para se desfazer do celular depois de quebrá-lo.
Logo depois que o empresário quebra o celular e entra no banheiro, um dos filhos o acompanha. Depois, essa mesma criança vai até o banheiro social da casa.
“Através de outra câmera foi possível constatar que, concomitantemente, Douglas deixa o banheiro da suíte, a primeira criança que entrou no banheiro social se retira com um objeto na mão”, relata a PF.
Segundo o relatório, é possível ver nas imagens que as duas crianças estavam observando o objeto, e “sem demora, uma delas o coloca dentro do short”. Os dois meninos entram em um segundo quarto da casa em seguida.
Durante as buscas, Douglas Castro e a esposa teriam aparentado estar apressados para que os filhos fossem logo para a escola e não vissem a ação da PF dentro da casa. Contudo, uma testemunha teria informado que as crianças não foram para a escola e sim para a casa de um dos avós naquele dia.
“À vista disto, considerando os indícios aqui evidenciados, é possível inferir que Douglas dilapidou o aparelho celular ao meio e utilizou um de deus filhos para que o ocultasse junto ao corpo, julgando que os mesmos não seriam submetidos a uma revista corporal, que de fato não foram. Desta forma, como já aludido, desde o início do cumprimento, o casal constrange a equipe policial para que as crianças saíssem apressuradamente da casa, presumivelmente, com o telefone junto ao corpo”, afirma a PF no relatório.
Midia Jur