Em um evento recente de celebração dos programas de microcrédito produtivo e orientado do Banco do Nordeste (BNB), realizado em Fortaleza, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a expressar seu descontentamento com as taxas de juros vigentes no Brasil. Além disso, Lula também lançou críticas diretas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Segundo o presidente, as instituições financeiras estatais, como Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Basa, BNB e BNDES, devem servir a propósitos distintos dos bancos privados. “Se é para agir da mesma forma que os bancos privados, essas instituições não precisam existir,” enfatizou Lula. Ele também questionou a postura de Campos Neto, lembrando que o mesmo foi indicado durante a administração de Jair Bolsonaro e que o Banco Central opera de forma autônoma. “Se esse cidadão dialoga com alguém, certamente não é comigo,” disse Lula.
A Contextualização das Taxas de Juros
O desagrado do presidente quanto às taxas de juros não é infundado. Mesmo que as taxas médias tenham apresentado uma tendência de queda nos últimos meses, segundo dados do Banco Central, ainda são consideradas altas por muitos analistas e pelo próprio governo. Em maio, os juros atingiram o pico de 38,2% ao ano para pessoas físicas e 22,2% para empresas.
Lula considera que os juros de 2,16% ao mês, ou quase 30% ao ano, são excessivos. “É por isso que vamos continuar a ampliar o crédito. Obviamente, não queremos falir os bancos, mas o objetivo é reduzir ainda mais essa taxa,” afirmou o presidente.
Selic em Foco
Em um ambiente econômico em que se espera que a taxa básica de juros, a Selic, caia para 11,75% até o final do ano, muitos questionam se os bancos estão de fato repassando essa redução para o consumidor. Atualmente, a Selic está fixada em 13,25%, e após um ciclo de 12 aumentos consecutivos desde março de 2021, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central iniciou um processo de redução da Selic no mês passado.
Crédito Rotativo: Uma Pedra no Sapato
Um ponto que destoa do cenário de queda de juros é o crédito rotativo do cartão de crédito. Segundo as últimas estatísticas, em julho, essa taxa chegou a um espantoso 445,7% ao ano. Este tipo de crédito, que é acionado quando o consumidor paga menos do que o valor total da fatura do cartão de crédito, é uma das modalidades de crédito mais caras do mercado.
O Banco Central já estuda a possibilidade de eliminar essa modalidade, dada a sua alta carga de juros e o impacto negativo sobre o orçamento das famílias.
Em um país que busca a retomada econômica e a estabilidade financeira, as palavras do presidente Lula jogam luz sobre uma questão crucial: até que ponto o sistema financeiro está alinhado com as necessidades do povo brasileiro?
Peterson Prestes