O deputado estadual Lúdio Cabral, que é uma das lideranças do PT em Mato Grosso, apontou como desnecessário o apoio do setor do agronegócio à campanha do ex-presidente Lula, que tenta retornar ao Palácio do Planalto nas eleições deste ano.
Durante participação no programa Roda de Entrevista, da TV Mais, o petista disse que vê contradição em caso de aliança com o agro, uma vez que entraria em rota de colisão com a agenda programática do partido.
“É um modelo de exploração econômica que está destruindo a Amazônia, o Cerrado, que é baseado no veneno e que está levando o Pantanal à morte. Ora, os gigantes desse setor na campanha do Lula, para mim, é uma contradição”, afirmou.
Lúdio defendeu, por exemplo, o fim da Lei Kandir e da política econômica que atrela o preço do que é produzido no país ao dólar, o que, segundo ele, faz com que o Estado que mais produz soja no país tenha o litro do óleo baseado na semente custando R$ 13 na pandemia.
“Nós precisamos acabar com a Lei Kandir. Não tem sentido algodão, soja, milho e carne representarem 60% do PIB em Mato Grosso, e 85% ser destinado à exportação e não pagar um centavo de imposto”, criticou.
“Não tem sentido aquilo que é comercializado dentro do País ter isenção de 75% no seu ICMS. O ICMS da soja é 3% quando deveria ser 12%. Nós todos pagamos 17% de ICMS em tudo o que a gente consome”, completou.
Na visão do petista, sem a aliança, em caso de vitória do partido, Lula não estará de “mãos amarradas” quando o setor se aproximar do Governo para discutir políticas para a agricultura, e poderá vetar a continuidade dos incentivos hoje usufruídos pelo agro e defender uma releitura da legislação ambiental.
“Vamos ter condições de dizer a eles que esses privilégios eles não vão ter mais, que não vamos mais deixar exportar produto primário à vontade, e a produção terá que ser industrializada dentro do Estado para gerar o emprego”, disse.
“Sem salto alto”
Nos bastidores, já é apontada a existência de um racha no agro, com parte do setor se mantendo ao lado do presidente Jair Bolsonaro (PL), que deve sair à reeleição, assim como fez em 2018, enquanto a outra parte tem se reunido com o Lula e mostrado intenção de participar do projeto do PT para o Brasil.
Lúdio, no entanto, não vê o apoio como certo, apontando que o grupo tem o costume de “ficar na moita” e se posicionar junto ao candidato mais forte dias antes antes da eleição, e voltou a defender que o partido pode conseguir a vitória sem precisar se aliar ao setor, apontando que apesar do poderio econômico, o agro não tem votos.
“O [Fernando] Haddad, no pior momento nosso, teve 35% dos votos para presidente da República. Se no pior momento, só nós sozinhos, com essa turma toda fazendo campanha para o Bolsonaro, nós tivemos 35%, agora com o Lula presidente e a população reconhecendo o que foram os nossos governos, vamos buscar apoio dessa turma? Não precisamos”, avaliou.
Questionado se não via uma contradição em sua bandeira, uma vez que essa aliança como setor já existiu no passado tanto no âmbito nacional quanto no estadual – com o PT tendo participado do Governo Blairo Maggi (PP), por exemplo –, Lúdio negou.
Para o deputado, o acordo no passado não foi benéfico para Mato Grosso e o partido precisa aprender com os erros que cometeu.
“Nós já cometemos erros e temos que aprender com eles. E o que estou fazendo é um exercício de autocrítica. Essa aliança política com esse setor econômico pode ter tido sentido em determinado momento do caminho que percorremos”, afirmou.
“Quando Lula assumiu a Presidência pela primeira vez em 2003, era outro cenário e era muito importante fazer balança comercial para enfrentar as dificuldades financeiras do país. Hoje, a nossa realidade é outra e os enfrentamentos que temos que fazer são outros, olhando par ao futuro e aprendendo com os erros que cometemos”, completou.
Lúdio afirmou ainda ter consciência de que rejeitar o apoio do setor implica em “abrir mão de uma certa segurança eleitoral” e negou que o discurso tenha um tom de “salto alto”.
“Não há salto alto. Eu tenho clareza de que essa eleição será muito, muito difícil. Hoje as pesquisas mostram Lula na frente, com a diferença de 20 pontos para o segundo colocado, que é o Bolsonaro, com chances de eleição no primeiro turno, mas esse é um retrato de hoje. As eleições serão em outubro e há um caminho longo a ser percorrido”, ponderou.