Devaneios de janeiro, ilusões o ano inteiro

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    PAULO LEMOS

    É da natureza da religião o rígido financiamento por parte dos seus membros e autopromoção para alcançar novos adeptos. Enquanto que a espiritualidade é gratuita e se expande pela plea da atração.

    Na dimensão espiritual não há controversas doutrinárias. Ninguém pretende pela espiritualidade fazer sermões e fomentar dogmas. Ela é vivencial, prática, pessoal, íntima, ao mesmo tempo que inclusiva e universal.

    Como querer determinar um padrão metafísico e místico como sendo o único, se ainda estamos procurando extraterrestres.

    Há coisas que não precisam ser dissecadas e dissertadas em tratados científicos, que não podem ser submetidas a um acompanhamento randomizado, muito menos testado como o motor de um carro, e, sim, apenas experimentadas, vividas, sendo que estarão sempre fluindo, independente das nossas vãs opiniões ou crendices, que merecem respeito, caso sejam funcionais para algum sujeito.

    Nesse sentido, de deferência às religiões, apesar da distinção delas e da espiritualidade que não cabe em nenhum sistema fechado e acabado, “acate com respeito todas as religiões. Cada homem tem o direito de escolher o caminho que prefere.

    Respeite a liberdade de crença dos outros, tanto quanto aprecia que respeitem a sua. Não discuta nem procure tirar ninguém do caminho em que se acha, a não ser que seja procurado para isso. Respeite, para ser respeitado”. (Torres Pastorino, Minutos de Sabedoria)

    Agora, estudando filosofia, desde muito cedo, no ócio, por “culpa” de Sócrates e Platão, Aristóteles e Demóstenes, depois de Sidarta, contemporeamente, e demais pensadores do oriente, não encontrei muitas das respostas que buscava. Para dizer a verdade, quase nenhuma.

    Porém, me deparei com perguntas que abriram e fizeram expandir minha mente, derrubar os mitos e definhar as certezas absolutas.

    Concluí que o filósofo não é um mestre da sabedoria ou atleta da inteligência, é um voraz aprendiz, que está sempre olhando para fora da caverna, ao invés de dar atenção para as sombras da ignorância.

    Na psicologia, no movimento de despertar de quem olha para dentro, na contracorrente de contemplar estaticamente as águas do rio passar, constatei que a alma fala, sendo as emoções seu dialeto e os sentimentos seu alfabeto. Que coisa incrível é a vida, um milagre que desafia os mais céticos, pois não conseguem mapear de onde vem e para aonde vai o sopro que anima o corpo.

    Na política, acreditando ser a arte de gerenciar interesses na busca do bem comum, vi muita coisa boa, entretanto lá tem cobra criada, ratazana e hospedeiros do interesse fisiológico e venal dos mais eloquentes dos homens, que privilegia a entonação da voz, para esconder o conteúdo dos interesses dissimulados e disfarçados, ou seja, um grande teatro, que nos faz rir do horário eleitoral.

    No Direito é a maneira civilizatória para se pacificar conflitos, dar estabilidade e coesão social, levando em consideração a cultura e promovendo justiça do início ao fim. Se isso não estiver ocorrendo, o arbítrio sobressai.

    Na economia, só toma leite o gato que mia.

    Enfim, devaneios que podem ter algo de verdadeiro.

    Vamos sair do muro, tomar lado e fazer o escaldado. Quem todo mundo agrada, produz o mesmo resultado de uma granada.

    Enfim, vamos nos unir no ato de se espiritualizar, atualizar, estudar e pensar?

    Sozinho, ninguém consegue ir para frente, só se escorregar no desfiladeiro e rolar ribanceira abaixo até pedir ajuda, dar as mãos e ficar de pé, nem mais, nem menos, no seu real tamanho.

    Paulo Lemos é advogado e professor universitário.

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