O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou, nesta quarta-feira (3), que não recebeu qualquer notificação oficial do governo argentino sobre a viagem do presidente Javier Milei ao Brasil neste fim de semana. O Itamaraty evitou comentar as consequências políticas da visita de Milei a Santa Catarina, onde participará de um evento político com opositores e se reunirá com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante sua visita, Milei deverá ignorar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, frustrando tentativas das chancelarias dos dois países de promover um encontro entre eles para fortalecer a relação bilateral.
Protocolo Não Cumprido
A embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe no Itamaraty, explicou que, tradicionalmente, o Ministério das Relações Exteriores é informado quando um chefe de Estado viaja a outro país em avião próprio. Este protocolo inclui a troca de informações diplomáticas e militares, compartilhamento de dados de rota e plano de voo, para coordenação da entrada no espaço aéreo brasileiro, controlado pela Aeronáutica. Em casos semelhantes, como a viagem de Milei à Espanha durante uma crise diplomática, a embaixada argentina enviou uma nota verbal para informar sobre a viagem.
No entanto, a Embaixada da Argentina em Brasília afirmou não ter informações oficiais sobre a viagem de Milei, e a Força Aérea Brasileira ainda não confirmou se recebeu detalhes do plano de voo. Inicialmente, Milei utilizava voos comerciais para cortar gastos, mas passou a usar o avião presidencial por razões de segurança. Segundo o jornal Clarín, a aeronave presidencial argentina está em manutenção e não estará disponível por meses.
Cúpula do Mercosul
A ausência de Milei na Cúpula do Mercosul, que ocorrerá na próxima segunda-feira (8) em Assunção, Paraguai, foi lamentada pela chancelaria brasileira. O presidente argentino será representado pela chanceler Diana Mondino. Essa seria a primeira participação de Milei na cúpula do bloco desde sua posse, mas ele preferiu não comparecer, tornando-se o primeiro presidente argentino a faltar à reunião de chefes de Estado do Mercosul. Em 2021, o ex-presidente Jair Bolsonaro também se ausentou de uma cúpula realizada em Assunção.
Implicações Políticas
Durante a campanha eleitoral, Milei ameaçou retirar a Argentina do Mercosul, alegando que o bloco criava “distorções comerciais” prejudiciais aos países membros. Embora membros do governo argentino tenham mantido uma participação ativa no Mercosul até agora, a ausência de Milei na cúpula é um sinal claro de falta de prioridade política.
Expectativas para a Cúpula
Segundo o Itamaraty, a principal pauta da reunião de líderes, que contará com a presença de Lula no dia 8, será a adesão oficial da Bolívia ao Mercosul. O Senado boliviano vota nesta quarta-feira o protocolo de adesão, e, após a aprovação, o presidente Luis Arce levará a decisão a Assunção, simbolizando a entrada do país no bloco. A Bolívia terá um prazo de quatro anos para se adequar aos acordos internos do Mercosul.
Fonte: JovemPan