Segundo turno

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    A semana que passou foi pródiga na divulgação de pesquisas eleitorais. As duas mais tradicionais Ipec (antigo Ibope) e DataFolha trouxeram poucas alterações em relação às informações de mais ou menos 15 dias atrás. A manutenção dos mesmos números é que foi a surpresa.

    Esperava-se que após os benefícios distribuídos à população (auxílio Brasil de 600 reais, vale caminhoneiro e taxista, auxílio gás, autorização para empréstimo consignado, baixa no preço dos combustíveis) o pêndulo começasse a inclinar mais fortemente para o lado do Bolsonaro.

    Houve sim uma tendência de melhora para o lado do Presidente, mas não com a intensidade esperada pelos marqueteiros.  O Ipec mostrou os mesmos 44% da pesquisa anterior de preferência do Lula e os 32% de eleitores do Bolsonaro. O que mudou um pouco foi a rejeição de ambos. Bolsonaro ficou 3 pontos percentuais menos rejeitado que na sondagem anterior.

    O Data-Folha que pesquisou um pouco depois pegou a influência da entrevista de ambos os candidatos para o Jornal Nacional, do debate da Bandeirantes e do horário eleitoral. Este mostrou que os candidatos e candidatas aluíram um pouco: o Ciro chegou a 9% e a Simone Tebet alcançou 5%. O Bolsonaro permaneceu com os mesmos 32% e o Lula perdeu 2 pontos, ficando com 45%.

    Embora os bolsonaristas tentem criar uma vacina contra os dados divulgados pelas pesquisas, informando através das mídias sociais que estes dados são falsos, na verdade o núcleo da campanha do Presidente acredita que os números são fidedignos. Quem não crê neles são os que recebem posts preparados pelos marqueteiros dizendo que os institutos são manipulados pelo adversário.

    Entretanto a possibilidade de decidir a eleição no primeiro turno, como sugeria pesquisas anteriores de diversos institutos parece cada vez menos provável.

    Não é que os números estavam errados como sugerem alguns eleitores céticos, mas sim porque as disposições de votar em um ou outro alteram-se durante a campanha. Há um núcleo duro de Bolsoristas e Lulistas que estão decididos por um ou outro candidato e não mudam as tendências sob quaisquer circunstâncias, mas muitos flutuam de um lado a outro, conforme a campanha vai progredindo.

    Como praticamente está descartada a decisão da eleição em primeiro turno não custa especular quais seriam as armas mais fortes a serem usadas por cada um dos concorrentes no segundo turno.

    Creio que a estratégia bolsonarista seja aumentar no povo o medo de que o Brasil gerido pelo Lula seria economicamente igual à Argentina ou a Venezuela e que as Igrejas Cristãs seriam fechadas. Também poderia bater duro na corrupção que houve no governo do PT e colar no Lula a pecha de chefe dos corruptos.

    Em contrapartida ao Bolsonaro caberia o lugar de líder do clã das rachadinhas e de misógino, além da falta de empatia com as vítimas da covid.

    Enfim ambos já gastaram muita munição e parece que ela não produziu grande estrago no inimigo. Resta aguardar o provável segundo turno e ver para que lado os eleitores do Ciro e da Simone vão pender, lembrando que a turma do PTB tem perfil de centro-esquerda e do MDB de centro.

    Parece que o Lula leva alguma vantagem, mas faltam quase 30 dias; muita coisa pode acontecer.

    Renato de Paiva Pereira é empresário e escritor.