O algodão, uma fibra que tem desempenhado um papel essencial na indústria têxtil ao longo da história, possui uma trajetória fascinante desde os tempos mais remotos. Seu cultivo remonta a mais de 4.000 anos no sul da Arábia, conforme registros encontrados no Código de Manu, a legislação mais antiga da Índia, datada do século VII a.C. Civilizações antigas como os Incas, no Peru, já faziam uso do algodão por volta de 4.500 a.C. Escritos pré-cristãos mencionam que as Índias eram a principal região de produção, enquanto o Egito, o Sudão e a Ásia Menor já utilizavam o algodão como uma necessidade básica.
Fonte: Anais do Museu Paulista – História e Cultura Material
A palavra “algodão” deriva do termo al-quTum, em árabe, pois foram os árabes, mercadores em sua maioria, que difundiram o cultivo e o comércio do algodão pela Europa. Dessa forma, a palavra “algodão” gerou cognatos como “cotton” em inglês, “coton” em francês, “cotone” em italiano, “algodón” em espanhol e “algodão” em português.
Somente a partir do século II d.C., o algodão se tornou conhecido na Europa, trazido pelos árabes. Foram eles os primeiros a fabricar tecidos e papéis com essa fibra, e a Europa passou a adotar o algodão regularmente durante as Cruzadas. No século XVIII, com o desenvolvimento de novas máquinas de fiação, a tecelagem se tornou uma força dominante no mercado global de fios e tecidos.
Fonte: www.patosemrevista.com
No Brasil, os índios já possuíam conhecimento sobre o algodão e dominavam seu cultivo desde antes do descobrimento do país. Eles dominavam técnicas para colher, fiar, tecer e tingir tecidos feitos a partir das fibras do algodoeiro. Os índios transformavam o algodão em fios para confecção de redes e cobertores, além de utilizar a planta para alimentação e uso medicinal em feridas.
Vento Nordeste: Algodão – A supremacia do algodão mocó das lavouras seridoenses
A produção comercial de algodão teve início nos estados do Nordeste brasileiro, com o Maranhão se destacando como o primeiro grande produtor, exportando as primeiras sacas do produto para a Europa em 1760.
A história do algodão em Mato Grosso
A história do algodão em Mato Grosso inicia nos anos 1970, quando um grupo de agricultores visionários decidiu explorar o potencial da região para o cultivo dessa fibra.
Aos poucos, a qualidade da pluma mato-grossense foi conquistando consumidores de outros estados brasileiros e do outro lado do mundo, consolidando um modelo de agricultura empresarial, altamente tecnificado, que contribuiu para que o Brasil voltasse a estar no ranking dos maiores exportadores.
Fonte: Arquivo AMPA
Na época, Mato Grosso era principalmente conhecido como um estado voltado para a pecuária e a agricultura de grãos, como soja e milho. No entanto, esses agricultores perceberam que as condições climáticas favoráveis, com um período de chuvas bem definido e uma grande quantidade de terras disponíveis, poderiam criar uma oportunidade para o cultivo de algodão.
Os primeiros anos foram desafiadores. Eles precisavam adaptar a cultura às condições climáticas da região e enfrentar os desafios econômicos do país, incluindo a inflação galopante. Apesar das dificuldades, os pioneiros perseveraram e começaram a colher resultados promissores.
Um marco importante para o desenvolvimento do algodão em Mato Grosso foi a safra de 1992/1993, quando os agricultores experimentaram a variedade ITA 90 em uma área de teste. Impressionados com a produtividade, eles decidiram expandir o plantio dessa variedade na safra seguinte. No entanto, a safra de 1994/1995 trouxe grandes desafios.
Uma virose conhecida como Doença Azul, causada pelo excesso de chuvas e pelo descontrole de pragas vetoras, afetou severamente as lavouras de algodão. Os agricultores enfrentaram perdas significativas, com uma média de colheita de apenas 60@/ha em vez das esperadas 270@/ha. Apesar disso, eles perseveraram e viram essa crise como uma oportunidade para impulsionar o setor algodoeiro.
Fonte: Revista Cultivar
A crise da safra de 1994/1995 despertou o interesse da pesquisa e levou à criação de programas de apoio ao algodão em Mato Grosso. O Programa de Apoio ao Algodão de Mato Grosso (Proalmat) e o Fundo de Apoio à Cultura do Algodão (Facual) foram estabelecidos em 1996, graças à iniciativa de Cloves Vettorato.
Além disso, os agricultores pioneiros fundaram a Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa) em 1997, demonstrando sua determinação em fortalecer o setor. Ao longo dos anos, foram criados outros institutos e iniciativas, como o Instituto Algodão Social (IAS) em 2005 e o Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) em 2007.
Com o tempo, a qualidade da pluma de algodão de Mato Grosso conquistou consumidores em todo o Brasil e no exterior, consolidando um modelo de agricultura empresarial altamente tecnificado.
Após a crise da safra de 1994/1995, Mato Grosso passou por um processo de reestruturação e modernização do setor algodoeiro. Os agricultores começaram a adotar práticas agrícolas mais avançadas, como o uso de sementes transgênicas, implementação de técnicas de manejo integrado de pragas e adoção de sistemas de irrigação.
Essas medidas foram fundamentais para aumentar a produtividade e a resistência das lavouras, reduzindo a incidência de doenças e pragas. Além disso, houve investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento, visando o aprimoramento das variedades de algodão adaptadas às condições de Mato Grosso.
Ao longo das décadas seguintes, o algodão de Mato Grosso passou a ocupar um papel de destaque no cenário nacional e internacional. A região se tornou uma das principais produtoras de algodão do Brasil, impulsionando a economia local e contribuindo para o desenvolvimento do estado.
Além disso, foram estabelecidas parcerias entre produtores, indústrias têxteis e instituições de pesquisa, com o objetivo de promover a sustentabilidade e a qualidade da fibra de algodão produzida em Mato Grosso. Programas de certificação, como o “Algodão Brasileiro Responsável” (ABR), foram implementados para garantir a rastreabilidade e a conformidade ambiental e social na produção de algodão.
O sucesso do algodão em Mato Grosso também se refletiu na geração de empregos e no desenvolvimento de infraestrutura. A produção de algodão impulsionou a construção de usinas de beneficiamento e de fiação, atraindo investimentos para a região e proporcionando oportunidades de trabalho para a população local.
Atualmente, Mato Grosso continua sendo um dos principais produtores de algodão do Brasil, contribuindo significativamente para o abastecimento do mercado interno e para as exportações do país. A região mantém um papel estratégico na cadeia produtiva do algodão, promovendo o desenvolvimento econômico e sustentável do estado.
Peterson Prestes