Elas marcharam

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    ROSANA LEITE

    O dia 05 de outubro é simbólico para o movimento de mulheres. No ano de 1789 a Revolução Francesa começava a eclodir, com o ideário de liberdade, igualdade e fraternidade. As mulheres estiveram em algumas frentes e foram de extrema importância.

     

    Preocupadas com a família, se assustaram na ocasião com o aumento do valor do pão e falta de alimentos. Enquanto o nervosismo acontecia, com grande parte da população encontrando dificuldade para conseguir se alimentar, a família real concedia festas regadas de gastos exorbitantes, afrontrando aos famintos e famintas.

     

    Os festejos aconteceram entre os dia 1 e 3 de outubro, para celebrar a chegada do regimento da infantaria que serviria de guarda para Luis XIV, o “Rei Sol”.

     

    Diante do caos e situação instalada, mulheres trabalhadoras se reuniram em frente aos mercados, e com a influência e apoio dos revolucionários, caminharam até a prefeitura da capital.

     

    O ato contou com aproximadamente 6 (seis) mil mulheres que decidiram cobrar medidas da monarquia. Com palavras de ordem, que deixavam evidente  o descontentamento com a administração local, elas caminharam por 14 quilômetros debaixo de chuva até o palácio.

     

    Antes do acontecimento da “Marcha sobre Versalhes”, outros eventos começaram a pontuar a Revolução Francesa. No dia 20 de junho de 1789, a Assembleia Constituinte elaborou a “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.” Já a tomada da Bastilha ocorreu no dia 14 de julho do mesmo ano, extinguindo os direitos feudais em 04 de agosto.

    As mulheres sempre se valeram e aproveitaram da conquista dos direitos do gênero masculino, para buscar os respectivos direitos. Principalmente em tempos anteriores, não havia outra forma de galgar espaços já alcançados por eles. A marcha dessas guerreiras, e que muito significou no contexto da revolução, não foi espontânea, tendo sido provocada por alguns homens.

    No entanto, o que se encontrava no script não era andar por alguns quilômetros em busca de reivindicações, mas, tão somente, a reunião de mulheres a clamar diante do comércio local.

    Trazendo a marcha para os dias atuais, naquele momento não foram todas as mulheres indistintamente que puderam estar na manifestação. O feminismo de outrora estava a amparar mulhereres certas: as brancas.

    Hoje, a interseccionalidade é a mais pura realidade e necessidade. As estatísticas de violência nos apresentam dados de que outros segmentos estão a precisar dos movimentos.

    Segundo levantamento bimestral da Associação Nacional de Transexuais e Travestis (Antra), os primeiros oito meses do ano de 2020 já possui mais assassinatos do que o ano de 2019 inteiro. De janeiro a agosto foram assassinadas 129 pessoas trans no país.

    Foi possível detectar, ainda, o aumento de bimestre a bismestre.

    Segundo o monitor da violência, o número de assassinato de mulheres subiu no 1º semestre no Brasil. As estatísticas mostraram que dos 889 assassinatos de mulheres com raça informada,  73% eram de mulheres negras.

    Existe na atualidade a preocupação com os diversos segmentos, o que apresenta certa evolução dos movimentos feministas.

    Narra a história que na marcha das mulheres em Versalhes tiveram mulheres da classe trabalhadora, brancas, analfabetas e pobres. O rei, a rainha e seu filho foram retirados de Versalhes em razão da manifestação. No dia subsequente tiveram que  ser encaminhados para Paris com carruagem escoltada, já que aproximadamente 60 (sessenta) mil pessoas estavam a acompanhar.

    As marchas e movimentos fazem parte da nossa evolução em busca de direitos e dias melhores. Há 231 anos atrás elas marcharam… Sem dúvida, elas continuam em marcha…

    Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.

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