A indústria algodoeira enfrenta um desafio formidável: o bicudo do algodão, Anthonomus grandis, um inseto que desafia constantemente produtores e cientistas agrícolas.
O bicudo do algodão é a praga mais danosa ao algodão, capaz de impactar significativamente a produtividade e qualidade da safra. Adultos do bicudo são robustos e caracterizados por um longo bico, o “rostro”, utilizado para alimentação e postura de ovos. Eles variam de cor entre cinza e preto, com um comprimento médio de seis milímetros.
A praga tem como foco principal as estruturas reprodutivas do algodoeiro, atacando-as pela bordadura, e ocorre por meio de perfurações que resultam na destruição completa dos botões florais. Pode-se observar ainda amarelecimento e queda dos botões. Sem o devido controle, os danos causados pelo bicudo do algodão na lavoura são irreversíveis.
O ciclo de vida do bicudo começa quando a fêmea deposita um ovo em um botão floral. Após a eclosão, a larva alimenta-se do botão, causando sua queda prematura. Quando atinge a fase adulta, o bicudo sai do botão caído, pronto para se reproduzir e continuar o ciclo. Com uma fêmea capaz de depositar entre 200 a 300 ovos durante sua vida, o crescimento populacional da praga é acelerado.
A melhor estratégia para o manejo do bicudo do algodão é através do Manejo Integrado de Pragas (MIP). Este conjunto de técnicas tem o intuito de diminuir a população do bicudo e mitigar seus danos, considerando que o inseto pode ser encontrado tanto na região mediana da planta, quanto dentro das estruturas da planta, ainda como larvas.
O monitoramento é um passo crucial do MIP. Idealmente, deve ser iniciado durante a entressafra e mantido foco total no período que antecede a fase de produção de botões florais, principal alvo do bicudo do algodão. A presença do bicudo pode ser observada pelos orifícios causados pela alimentação dos insetos adultos.
O controle comportamental pode ser realizado através da técnica “atrai e mata”, utilizando o tubo-mata-bicudo (TMB®), feito de papelão, revestido por um atraente alimentar e usado para liberar inseticidas. Este deve estar instalado na bordadura da lavoura, durante as fases de pré-plantio e após a colheita.
O controle cultural envolve a observância da época de plantio, a destruição de soqueiras logo após a colheita, e o respeito ao Vazio Sanitário. Tais práticas podem encurtar o período com estruturas reprodutivas viáveis à praga e evitar o surgimento de plantas de algodão ou rebrota na entressafra.
O controle biológico é uma outra vertente do MIP, com o uso de parasitóides como Catolaccus grandis e Bracon vulgaris, que têm potencial para redução natural da praga. Entomopatógenos como Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae também são opções. No entanto, antes de implementar essas medidas, é essencial consultar as diretrizes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Finalmente, o controle químico deve ser baseado em dados de amostragens obtidos durante o monitoramento. Embora o controle químico só seja possível na fase adulta da praga, pois as demais fases se localizam dentro das estruturas reprodutivas, é uma parte vital do MIP. Como sempre, ao aplicar inseticidas, é crucial seguir as recomendações do fabricante.
A luta contra o bicudo do algodão é um desafio contínuo, mas, com ciência e inovação, os agricultores de todo o mundo estão melhor equipados do que nunca para enfrentar essa praga e proteger suas safras. O conhecimento aprofundado sobre o bicudo do algodão, seu ciclo de vida, suas características e comportamento, juntamente com as estratégias de manejo adequadas, são fundamentais para a sustentabilidade e rentabilidade da cultura do algodão.
Peterson Prestes