“MT é um estado com alguns bilionários na lista da Forbes e 60% da população passando fome”

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    A história de boa parte da população cuiabana que tem enfrentado uma fila na frente de um açougue do bairro CPA 2, para pegar ossos doados por um açougue gerou grande repercussão pública e até mesmo crítica nacional, já que Mato Grosso é o maior exportador de carne bovina do país, segundo a pesquisa Scot Consultoria realizada em 2020.

    Em entrevista ao jornal Centro Oeste Popular, o deputado estadual Lúdio Cabral (PT), afirmou que o fato apesar de ser triste não é novidade, já que ele tem ‘martelado’ há algum tempo essa situação na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (AL-MT).

    Nos últimos dois anos, o parlamentar reconhece que houve um aumento expressivo da fome no território mato-grossense, porém essa situação, nada mais é do que o modelo de exploração econômica que Mato Grosso adota, pois concentra renda e riqueza na mão de poucos e vive de uma falácia que produz alimentos para o Brasil .

    “Esse modelo de exploração econômica que a gente tem produz commodities que são exportadas e só trazem alimentos e riqueza para os donos desse modelo. Então Mato Grosso consegue ser um estado que tem alguns bilionários na lista da Forbes e hoje 500 mil famílias inscritas no CadÚnico (famílias brasileiras em situação de pobreza e extrema pobreza), ou seja, mais de 60% da população vivendo em insegurança alimentar, e uma parte significativa passando fome. Então, veja que esse é o primeiro fracasso do modelo de exploração econômica”, lamentou.

    Para se ter uma ideia, o parlamentar lembrou que o Estado é o maior rebanho de bovino do país com mais de 30 milhões de cabeças de gado, além de ser um uma área grande que caberia duas vezes o país da Espanha dentro, então é algo para ser notado e constatado que acontecesse alguma coisa “muito errada”.

    “Primeiro problema é o modelo de exploração econômica que a gente tem. Segundo, uma injustiça tributária sem tamanho porque os ricos não pagam impostos e os pobres pagando Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) altíssimo sobre a energia elétrica e medicamentos. E o que isso demonstra? Demonstra que nós somos um fracasso em política da assistência social”, pontuou.

    O deputado citou, por exemplo, que na pandemia Mato Grosso no ano de 2020, arrecadou R$ 3 bilhões a mais do que havia arrecadado em 2019. A arrecadação do Estado cresceu durante a pandemia, segundo ele, graças a uma Reforma Tributária que foi aprovada na Casa de Leis de Mato Grosso, em julho de 2019, que manteve os mesmos privilégios dos gigantes, mas mudou a forma de cobrança do ICMS.

    Agora, em 2020, durante a pandemia, o governador Mauro Mendes (DEM), não colocou em prática nenhuma política de assistência social para a população. Mesmo tendo dinheiro em caixa.

    “A única coisa que o Estado fez em 16 meses na pandemia foi distribuição de cesta básica. Ele arroga ter distribuído 534 mil cestas básicas. Só que nós somos 137 mil famílias vivendo na miséria, passando fome. Então, significa que essas 534 mil cestas básicas representam uma cesta básica a cada cinco meses para famílias em situação precária. São 15 dias com alimentos só com cesta básica sem gastos e quatro meses e meio correndo atrás de açougue da cidade. E, quem convive com pessoas nessas condições sabe que não é só Cuiabá que vive isso. São pessoas dos 141 municípios que procuram doações em todos os açougues. Também vale lembrar que a política de renda básica emergencial o Estado só foi notar um ano depois do começo da pandemia quando aprovou a lei do Ser Família Emergencial, em um período de três meses no valor de R$ 150, no entanto, R$ 150 em Mato Grosso que é um estado que tem o maior preço do gás de cozinha a pessoa deve escolher se compra a cesta básica ou o gás”, disse.

    Em julho, a AL-MT teve oportunidade de votar pela prorrogação do auxílio e rever o valor. Segundo o deputado, o Governo mandou um projeto de prorrogação no valor de R$ 200 a cada dois meses, porém insuficiente.

    Logo, Lúdio então apresentou uma emenda que fosse paga às famílias o valor de R$ 300 por mês, todos os meses até dezembro de 2022. Mas, infelizmente ele lembrou que não conseguiu aprovar.

    Já em janeiro deste ano, ele e a vereadora Edna Sampaio, da mesma sigla, ingressaram na Justiça para obrigar o Estado a pagar auxílio de um salário mínimo para famílias desempregadas e em situação de vulnerabilidade social.

    “Assim a Justiça entendeu que a população não passava fome em Mato Grosso. E, o governador ainda fala um discurso que o problema de assistência a essas famílias é do prefeito. Esse discurso é discurso de quem quer transferir o problema que é seu para os outros. Cuiabá é a Capital do Estado e as políticas de assistência social são construídas com articulação. Para se ter uma ideia, em mais de um ano de pandemia o governador se sentou com os prefeitos das duas maiores cidades do estado, Cuiabá e Várzea Grande, uma única vez. Por isso, que MT é o 2º estado do país com maior taxa de mortalidade por covid-19 e as pessoas se perguntam porquê? Tudo porque o Estado é um fracasso no enfrentamento da pandemia e não tivemos um governador para articular e enfrentar a doença de forma adequada”, falou.

    Doação de ossinhos

    A empresária Samara Rodrigues de Oliveira, de 38 anos, proprietária do açougue que doa os ossinhos, apesar do fato ser ainda considerado como crítica, ela se emociona ao falar da ação que já tem 10 anos de doação para as famílias carentes.

    Ela contou à reportagem que a situação chegou em um ponto em que as pessoas comem carne crua ou até mesmo trocam de camiseta para se passar por outro e assim conseguir mais um saco de “ossinho”.

    As doações são realizadas todas as segundas, e quartas e sextas-feiras, sempre às 11h. E, foi organizado assim para que sempre que a pessoa for ao local tenha o produto.

    “Para doar a gente precisa vender. Passamos por dificuldades também. Mas, a empatia que Deus colocou no coração, nossa fé e amor ao próximo tem nos ajudado a superar e atender cada vez mais pessoas. Somos julgados por não ter critérios de doação porque às vezes a pessoa chega no carro ou de motocicleta. Mas, você não sabe se aquela pessoa tem o que comer em casa. Então, a gente doa sem olhar para quem. E, nossos colaboradores são orientados a não ‘pelar’ tanto o osso para que tenha carne para essas pessoas comerem. Então a única coisa que queremos é que outras pessoas se sensibilizem e ajudem essas pessoas porque aqui elas não precisam somente de comida, mas sim de um amparo emocional e até mesmo espiritual”, finalizou.

    Centro Oeste Popular

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